Banco central reduz a taxa básica de juros

Por Carlos Gilbert Conte Filho

Na última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, realizada no dia 20 de março, a autoridade monetária decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,5% trazendo a Selic de 11,25% para 10,75% ao ano. Ademais, a autoridade monetária sinaliza que na próxima reunião, a ser realizada em maio, deve haver um novo corte de 0,5%.

A decisão de corte foi unânime e veio em linha com o esperado pelo mercado. Este foi o sexto corte seguido na taxa básica de juros, que começou a recuar em agosto de 2023. No início do ciclo de cortes, a Selic estava em 13,75% ao ano. Desde então, o comitê vem reduzindo a Selic no mesmo ritmo: meio ponto percentual a cada encontro. Agora, a Selic está no menor patamar desde fevereiro de 2022 (gráfico 1).

O comunicado trouxe uma alteração sensível: a sinalização de corte na mesma magnitude foi mantida apenas para a próxima reunião, ao contrário dos encontros anteriores, quando foi usada a expressão no plural (“próximas reuniões”).  Essa mudança era esperada por parte do mercado e dos economistas. Nesse sentido, o Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária necessária para o processo desinflacionário.

Para o Copom, tanto o ambiente interno como o externo seguem demandando atenção. O entendimento é o de que o ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates acerca do início da flexibilização de política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. Desse modo, o Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte dos países emergentes.

No ambiente interno, por seu turno, o comitê ponderou que a inflação ao consumidor manteve trajetória de desinflação, mas que o cenário ainda requer “serenidade e moderação”. Assim sendo, o Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária.

Ocorre que a maior incerteza apontada pelo Copom tem implicações. Não necessariamente na trajetória de queda de juros implícito nas projeções e no cenário básico do Copom. O que houve é que aumentou o risco de a trajetória de queda de juros sair do roteiro. Ainda assim, esse risco segue pequeno, caso contrário teria se tornado o cenário básico.

É natural que, diante da confirmação feita pelo Copom no comunicado de que a incerteza aumentou, os mercados de juros se ajustem para precificar esse risco. Os preços do mercado refletem a média ponderada de todos os cenários possíveis. Mas não se deve esperar muito solavancos. O mercado já vinha se adequando a esse aumento de incerteza à medida que foram divulgadas novas informações sobre o cenário econômico e diante dos avisos de membros do Copom de que viam um aumento de incerteza. Logo, a trajetória para a taxa Selic embutida no boletim Focus não teria motivos para mudar muito, a não ser pelo fato de que as previsões dos analistas para o juro no final do ciclo de cortes eram incompatíveis com as projeções de inflação do Banco Central. Nesse sentido, a expectativa do mercado indica uma Selic em 9% até o fim do ano.

Para definir a taxa básica de juros e tentar conter a alta dos preços, o BC faz projeções para o futuro. Neste momento, a instituição já está mirando na meta deste e do próximo ano. Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de 6 a 18 meses para ter impacto pleno na economia. Nesse sentido, o Copom informou que suas projeções de inflação se situam em 3,5% para 2024 e 3,2% em 2025. Em paralelo tem-se a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A meta de inflação deste ano é de 3% e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.  A última projeção do mercado financeiro apontado pelo Boletim Focus é de que a inflação de 2024 ficará em 3,79% – abaixo do teto da meta definida para o ano, porém acima do ponderado pelo Copom. A partir de 2025, o governo mudou o regime de metas de inflação, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida.

Em suma, a queda dos juros básicos deve persistir nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária. Contudo, o que fica é que o ritmo de queda dos juros deve se alterar a partir da próxima reunião. Após a reunião de maio (cujo corte será de 0,5% na taxa Selic), os cortes devem cair para 0,25% nas reuniões seguintes até que a Selic alcance o patamar de 9%, o que deve ocorrer até o fim desse ano. A partir de então, haverá aumentos ou quedas pontuais para manter a inflação dentro da meta sem comprometer a trajetória de crescimento econômico. Fato a se destacar é que, a queda dos juros, mesmo ante a um cenário mais incerto, corrobora para que novos investimentos ocorram e que, assim, o produto da economia cresça. Nesse sentido, o mercado tem projetado, cada vez mais, um maior crescimento do PIB para 2024 (gráfico 2): atualmente, espera-se crescimento de 1,8% do produto no ano.