O que explica o crescimento acima do esperado da economia brasileira?

Por Carlos Conte Filho

É inegável o otimismo que envolve da economia brasileira atualmente. A cada novo resultado do PIB os números vêm acima do esperado pelo mercado e, a cada nova edição do Boletim Focus as projeções para a atividade econômica para 2022 são revistas para cima. O que explica esse otimismo e essa acentuada retomada da economia? A resposta para essa questão está na soma de fatores internos e externos.

            Dentre os fatores internos, o destaque vai para as políticas de renda implementadas pelo governo Bolsonaro durante a pandemia (auxílio Brasil de R$ 400) e, principalmente, nessa reta final de governo (auxílio Brasil majorado para R$ 600). É fato que a renda disponibilizada para a população durante a pandemia (R$ 400) ficou acima da média dos países emergentes e, em alguns casos, acima da renda de países desenvolvidos. O resultado? A capacidade de compra da população ajudou a manter a economia em um nível que, mesmo longe de apresentar desempenho positivo em decorrência dos desafios sanitários apresentavam naquele momento (no segundo trimestre de 2020 a economia encolheu quase 9%), ao menos minimizou as impostas naquele momento (principalmente as famílias menos favorecidas). E com a manutenção do Auxílio Brasil (agora majorado), o consumo das famílias impulsionam a atividade economia. Além desse, outros aspectos tem impulsionado o consumo, a saber: a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a antecipação do pagamento do 13º salário para aposentados e pensionistas, medidas de crédito na economia, redução do IPI sobre produtos industrializados em até 35%.

Lembrando o desempenho da economia durante a pandemia, o PIB, de fato, sofreu forte impacto (gráfico 1). Contudo, analistas de mercado destacam que a queda da atividade poderia vir a ser ainda maior (aprofundamento da recessão em mais 1,5% durante os meses críticos). E superado o período mais adverso da pandemia, a renda que inicialmente se manteve e posteriormente se elevou ajudou e ajuda a impulsionar a retomada da atividade econômica (principalmente via setor de serviços).

Paralelamente, ainda durante a pandemia a autoridade monetária reduziu substancialmente a taxa básica de juros (Selic) para o menor patamar desde a implementação do Real (gráfico 2). E isso resultou em duas situações que, de alguma forma, beneficiaram as empresas naquele momento e que reverberam atualmente. A primeira delas foi a reestruturação das dívidas das empresas (e das famílias) sob condições mais favoráveis. Com a abrupta redução da taxa básica de juros, dívidas que outrora seriam impagáveis (dado o contexto de redução da atividade econômica) puderam ser renegociadas permitindo que inúmeras entidades continuassem ativas (ou seja, não viessem a falência). A segunda, neste caso para as empresas mais sólidas, foi a possibilidade de aumentarem a taxa de investimento. Ou seja, aquelas empresas que conseguiram se manter ativas se beneficiaram da política de redução da Selic e, em alguns casos, até ampliaram os investimentos. E o investimento sob taxas de juros baixos permitiu que essas empresas enfrentem o atual ciclo de custo do capital elevado com mais fôlego (atualmente a taxa Selic está em 13,75% – lembrando que a elevação da Selic ocorre para frear o aumento dos índices de preços). É importante destacar que, já superado o período crítico da pandemia, a taxa de investimento vem subindo gradativamente: atualmente, a taxa de investimento no País está em 18,66% do PIB (gráfico 3).

Quanto aos fatores externos, a economia mundial foi crucial para o bom desempenho que a economia brasileira vem atravessando nos últimos trimestres. Desde 2020, visando enfrentar os desafios impostos pela pandemia e tentar manter certo nível de renda, vários países implementaram uma forte política fiscal (aumento do gasto público) e monetária (ampliação da base monetária e/ou redução da taxa básica de juros). Essa política de renda externa é crucial para países que enxergam no setor externo um meio (senão o principal) para apresentaram desempenho positivo da atividade econômica.

Somado a isso, as cadeias globais de produção conseguiram se adaptar rapidamente às condições que a crise sanitária impôs (por exemplo, a implementação do trabalho remoto), o que impediu um ainda maior colapso na oferta de bens e serviços.

Em paralelo, a ciência trabalhou de forma muito eficaz. O rápido surgimento da vacina contra a Covid-19 contribuiu para a retomada da economia em um espaço de tempo surpreendente (quando comparado a outras pandemias que já atingiram o planeta). Quando a pandemia se alastrou, não se imaginaria que os primeiros imunizantes seriam disponibilizados em meados de 2020. Com a disponibilização dos imunizantes, a atividade econômica pode ser retomada. Ou seja, a ciência teve papel crucial para a retomada da economia.

            Por fim, em específico aos países emergentes cujas economias estão centradas, predominantemente, em bens primários, mais um fator contribuiu (e contribui) para o bom desempenho dessas. A escassez de oferta das commodities em função das dificuldades logísticas durante a pandemia – fato que foi acentuado com a recente guerra no leste europeu – contribuiu para a apreciação dos preços desses itens. No Brasil, particularmente, houve, ainda, a desvalorização do Real em relação ao dólar, o que expandiu a renda dos produtores de bens primários e ajudou a impedir uma maior queda da demanda interna. Em suma, o cenário em relação aos bens primários fez com que o saldo da balança comercial registrasse sucessivos superávits o que se traduz no bom momento das contas externas e que se reflete no desempenho da economia nacional.  

            Sendo assim, o ambiente de estímulos econômicos interno e externo, a majoração do preço dos bens primários no contexto internacional (e a desvalorização do Real que beneficia esse setor – mas que gera inflação) e o rápido enfrentamento da pandemia (em escala global) beneficiou amplamente países emergentes como o Brasil. Atualmente, com a retomada da economia nacional praticamente ao ritmo normal – leia-se, sem maiores dificuldades em relação ao isolamento social – há um cenário otimista que se reflete no bom desempenho da economia e nas expectativas para o PIB ao longo desse ano (gráfico 4). Isso se deve, como já mencionado, a conjuntura favorável do setor externo e, internamente, as políticas fiscais expansionistas. Todos esses fatores aquecem a demanda e a retomada do setor de serviços que é responsável por mais de 70% da economia brasileira – assim como o setor agroexportador – que surgem fatores substanciais de impulso para a economia nacional.