Taxa de investimento e crescimento econômico do Brasil
2024-08-05 08:42:32Por Carlos Gilbert Conte Filho
Segundo o renomado economista húngaro Nicholas Kaldor, a indústria é o motor do crescimento econômico de qualquer economia. Embora o setor de serviços seja usualmente o de maior abrangência na composição do produto nacional, é a indústria que dita o ritmo de crescimento. Ocorre que para a indústria crescer, é preciso investimentos. Entretanto, a taxa investimentos brasileira tem caído ao longo dos últimos trimestres (gráfico 1) fazendo com que o País tenha um dos piores desempenhos nesse quesito em nível mundial (gráfico 2).
De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), depois de algum respiro nos últimos anos – principalmente após a pandemia e uma maior propensão a investir em função do período de demanda represada – a taxa de investimento do Brasil, a partir de 2024, deve se estabilizar entre 15 e 16% do PIB até 2029. Segundo a instituição, o Brasil deve fechar 2024 com uma taxa de investimento em torno de 15,4% do PIB, a 20ª pior entre os 170 países analisados. Em 2029, a projeção é que o Brasil feche o ano com uma taxa de investimento de 15,4%, o que o tornaria o 19º pior. Observa-se que os números para o Brasil são piores do que os projetados para a América Latina.
Diversos são os fatores que contribuem para a baixa taxa de investimento da economia brasileira. Dentre esses, tem-se a baixa poupança doméstica; a taxa de câmbio elevada; além da elevada carga tributária. Soma-se a isso a baixa capacidade de investimento do Estado e o elevado custo do capital (em decorrência da elevada taxa de juros).
Analisando pontualmente cada um desses componentes, pode-se destacar que a taxa de poupança doméstica é baixa fazendo com que sobrem poucos recursos para investir. Esses poderiam ser complementados com recursos externos, mas o Brasil toma pouco dinheiro emprestado do resto do mundo. Já em relação ao câmbio, a taxa de conversão entre o Real e o dólar é elevada, o que, por um lado incentiva as importações, mas por outro, impacta negativamente nas importações de bens de capital (necessários para as empresas se modernizarem e expandirem a produção). Sendo assim, como o custo para importar máquinas é elevado, muitas vezes os investimentos acabam não se materializando.
Quanto ao custo do capital, com uma Selic acima de dois dígitos, muitas vezes o empresário, ao analisar as estimativas de retorno de um projeto de investimento, opta por esperar por um melhor momento ou até mesmo desistir de realizá-los. Soma-se a isso a carga tributária, os impostos em cascata e os impactos nocivos que esses acarretam para quem quer produzir. As empresas brasileiras são amplamente taxadas, o que torna mais caro para elas operarem, além de sobrar menos recursos para realizarem investimentos. Nesse sentido, a simplificação tributária que reduz a incidência do imposto em cima de imposto – tal como prevê a reforma tributária aprovada recentemente – certamente, vai ajudar o Brasil a melhorar a taxa de investimento.
Não obstante, os investimentos, em certa medida, poderiam ser realizados pelo governo como já ocorreu outrora. Ocorre que sem um ajuste fiscal – além de dificultar que ocorram reduções na carga tributária – também impossibilita que o Estado invista. O resultado é que a participação do governo no PIB piorou muito ao longo dos últimos anos, o que contribui para que a taxa de investimento do Brasil não chegue perto daquelas observadas em outros países. Ademais, há o temor por parte do mercado de que uma trajetória crescente da dívida pública puxe as taxas de juros para cima (para rolar a dívida existente e tomar ainda mais recursos do mercado), o que, como vimos, é prejudicial para os investimentos.
Economistas tem ponderado que uma taxa de investimento em torno de 15% do PIB para o Brasil – como projetado pelo FMI até 2029 – é bem baixa e perto das mínimas histórias quando rondava a casa dos 14,5%, em 2016 (segundo ano de recessão naquele biênio negro para a economia brasileira). Esses números colocam o Brasil em meio as 20 piores economias em termos de investimento em nível mundial. A título de comparação, os números projetos para o Brasil são piores do que os vislumbrados para diversos países emergentes, tais como a Colômbia (17,9%), Argentina (17,9%), Egito (17,2%), Turquia (23,6%), México (22,2%), Peru (21,9%) e Chile (21,7%).
Sendo assim, com uma baixa taxa de investimento, é impossível que uma economia cresça de modo sustentado. Pode ocorrer que em um ano ou outro o PIB alcance 2%, talvez um pouco mais, mas como dito, é algo pontual e depende de fatores externos (como uma valorização das commodities, por exemplo). Não obstante, estudos indicam que, para que o Brasil cresça a taxas vistas no passado (principalmente aquelas vivenciadas nos anos 1970 ou nos anos 2000) a taxa de investimento deveria ser próxima dos 25% do PIB. Logo, políticas voltadas a promoção dos investimentos no setor real da economia devem ser implementadas, do contrário sairemos desse ciclo vicioso que resulta em baixo crescimento econômico.
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