IPCA sobe em setembro e chega perto do teto.
2024-10-30 15:25:05Por Carlos Gilbert Conte Filho
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou em setembro para 0,44% o que faz com que o índice tenha encostado no limite superior da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que é de 4,5%. No acumulado em 12 meses o IPCA acumula alta de 4,42% (gráfico 1). E isso liga um alerta para prováveis aumentos da taxa básica de juros.
O resultado do IPCA de setembro veio ligeiramente abaixo das projeções do mercado que eram de 0,45%. No mês, os preços subiram 0,44%, a maior variação para o mês desde 2021. No acumulado do ano, o IPCA sobe 3,31%, e em 12 meses, alcança a marca dos 4,42%.
Mais de 70% da alta dos preços em setembro veio da energia elétrica e dos alimentos. É nesse sentido que, em relação aos subgrupos que compõe o IPCA, observa-se que habitação e alimentação e bebidas foram os itens que mais contribuíram para o avanço do IPCA (gráfico 2).
Em relação ao grupo habitação, esse foi fortemente impactado pela alta da energia elétrica. Por conta da grave seca que afeta o País, a bandeira tarifária passou de verde para vermelha patamar 1, o que gera uma cobrança extra de R$ 4,46 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumido pelas famílias. Sendo assim, o aumento de 5,36% da energia elétrica residencial em setembro veio contra uma queda de 2,77% registrada em agosto. O grupo de Habitação também sofreu influência da alta de 2,40% nos preços do gás de botijão. Além desses a taxa de água e esgoto e o gás encanado também tiveram avanços, porém mais moderados: de 0,08% e 0,02%, respectivamente.
Já em relação aos alimentos, houve alta relevante (0,50%), o que também impactou na inflação do mês. A estiagem que atinge lavouras e a produção de carnes fez com que os preços de alimentos voltassem a acelerar depois de dois meses de queda (gráfico 3). Não obstante, analistas indicam que a inflação da rubrica alimentos e bebidas deve ser ainda mais alta em outubro, já que virá pressionada pelas carnes, o que tende a impactar no índice final de outubro.
O grupo de transportes também foi relevante na formação final do IPCA, com alta de 0,14%, puxado pelo avanço de 4,64% dos preços das passagens aéreas. No campo dos combustíveis o etanol subiu 0,75%, enquanto o gás veicular teve leve alta de 0,03%. Já a gasolina e óleo diesel registraram quedas, de 0,12% e 0,11%, respectivamente.
Mas se o preço dos bens apresentou alta em setembro, o mesmo não ocorreu com os serviços. A inflação de serviços desacelerou em setembro, passando de uma alta de 0,24% em agosto para alta de 0,15% no mês. A principal contribuição para essa desaceleração veio do subitem de cinema, teatro e concertos, que teve uma forte redução de 8,75%. Os pesquisadores do IBGE atribuem essa queda, principalmente, à semana de promoções para os clientes de cinemas que pagaram menos pela entrada. Outros itens, como seguro voluntário de veículo (-2,42%), pintura de veículo (-0,96%), serviço de higiene para animais (-0,66%) e pacotes turísticos (-0,34%), também recuaram. Sendo assim, em 12 meses, a inflação de serviços recuou de 5,18% em agosto para 4,82% em setembro. Esse é o menor patamar desde junho.
Já os itens monitorados – cujos preços são definidos pelo setor público ou por contratos – avançaram 1,01% em setembro, contra um recuo de 0,12% em agosto. Apesar da alta, o acumulado em 12 meses dos monitorados desacelerou passando de 5,58% em agosto para 5,48% em setembro.
Em suma, ante a aceleração da inflação em setembro e o que deve vir nos três meses restantes do ano, o mercado estima que a inflação deve encerrar 2024 em 4,38%, acima do centro da meta, mas ainda dentro do limite tolerado. Entretanto, o novo presidente do Banco Central – Gabriel Galípolo – que foi sabatinado em 8 de outubro e aprovado para ocupar o cargo, já indicou que a autoridade monetária conduzirá uma postura de combate a inflação e não aos interesses do Planalto. Nesse sentido, o mercado tem revisto as taxas de juros e já aponta para uma Selic em 11,75% em 2024 e de 11% em 2025. Ou seja, tudo indica que, ao andar do índice inflacionário, haverá, muito em breve, uma subida dos juros básicos (atualmente em 10,75% ao ano).