Os Efeitos da Guerra entre Israel e Irã na Economia Brasileira
2025-06-27 17:32:15A escalada das tensões militares entre Israel e Irã reacendeu preocupações com a estabilidade no Oriente Médio, uma das regiões mais estratégicas do mundo do ponto de vista energético e geopolítico. Embora o conflito ocorra a milhares de quilômetros de distância, seus efeitos rapidamente se alastram por diferentes economias globais – inclusive o Brasil. Como país importador de combustíveis e insumos, e fortemente dependente do agronegócio e do comércio exterior, o Brasil se vê vulnerável a uma série de impactos indiretos decorrentes da instabilidade regional.
O primeiro impacto perceptível é o aumento do preço internacional do petróleo. Com a ameaça de bloqueios no Estreito de Ormuz – por onde transita cerca de 20% do petróleo mundial – o preço do barril Brent registrou altas imediatas, atingindo valores acima de US$ 74, segundo dados da Reuters (2025) (gráfico 1). Para o Brasil, que depende de importações de derivados, esse choque eleva diretamente os preços dos combustíveis. A Petrobras, mesmo com certa autonomia na política de preços, tende a repassar parte desses custos, pressionando o consumidor e a cadeia produtiva.
Com os combustíveis mais caros, os custos logísticos aumentam de forma generalizada. No Brasil, onde cerca de 65% da carga é transportada por rodovias, essa elevação tem efeito cascata sobre os preços de alimentos, bens de consumo e matérias-primas. O transporte de produtos agrícolas e industriais se torna mais oneroso, afetando tanto o produtor quanto o consumidor final. Logo, assim como a guerra na Ucrânia em 2022 trouxe choques nos preços de energia e fertilizantes, o atual conflito no Oriente Médio tende a replicar efeitos semelhantes.
Os choques de oferta decorrentes da guerra geram pressões inflacionárias significativas, especialmente nos preços de combustíveis, transportes e alimentos. Estimativas indicam que, para cada aumento de US$ 10 no preço do barril de petróleo, a inflação brasileira pode subir em até 0,2 ponto percentual. Nesse contexto, o Banco Central tende a adotar uma postura mais cautelosa, possivelmente interrompendo ou postergando o ciclo de redução da taxa Selic. Essa decisão impacta diretamente o custo do crédito, o nível de consumo das famílias e os investimentos produtivos.
Não obstante, em momentos de crise internacional, investidores globais buscam ativos mais seguros, como o dólar norte-americano. Isso causa a desvalorização de moedas emergentes, como o Real, que recentemente oscilou entre R$ 5,15 e R$ 5,20. Um câmbio mais alto encarece as importações brasileiras – especialmente de insumos industriais e agrícolas – agravando ainda mais os custos de produção doméstica e pressionando a inflação.
Logo, o agronegócio brasileiro, um dos pilares da economia nacional, é duplamente afetado. De um lado, o aumento dos custos com fertilizantes e defensivos – muitos dos quais são importados do Oriente Médio, inclusive do Irã – encarece a produção. De outro, as exportações para países muçulmanos, como carnes e grãos destinados ao Oriente Médio e Norte da África, enfrentam riscos de interrupções, embargos ou retração da demanda. Isso compromete receitas em mercados estratégicos e afeta produtores de médio e grande porte.
Além do agronegócio, diversos setores industriais também dependem de insumos importados do Oriente Médio ou de países que podem ser indiretamente afetados por sanções, embargos ou instabilidade logística. Nesse sentido, a indústria brasileira pode ser impactada, especialmente nos segmentos que dependem de insumos químicos, plásticos e combustíveis. Com a interrupção ou encarecimento do fornecimento desses componentes, a produção industrial tende a sofrer elevações de custo, perda de competitividade e possíveis atrasos logísticos, afetando tanto o consumo interno quanto as exportações industriais.
A guerra também afeta rotas marítimas estratégicas e pode gerar atrasos e custos adicionais no comércio internacional. Em um cenário global já tensionado por guerras anteriores, essa nova frente de conflito agrava a percepção de risco geopolítico, reduz o apetite por investimentos em mercados emergentes e pode comprometer a retomada econômica mundial.
E não para por aí, pois os efeitos da guerra se estendem para o mercado financeiro. O aumento do risco geopolítico tende a elevar a volatilidade nos mercados. Índices acionários podem sofrer retração, enquanto ativos considerados mais seguros, como títulos públicos e ouro, ganham atratividade. O comportamento dos investidores institucionais passa a refletir uma maior aversão ao risco, reduzindo a liquidez de ativos nacionais e elevando o custo de captação externa para empresas brasileiras.
Outro ponto relevante é que a escalada do conflito reacende discussões sobre a neutralidade diplomática do Brasil e sua inserção no comércio internacional. Países em guerra tendem a redirecionar acordos comerciais e buscar alternativas mais estáveis, o que pode representar tanto riscos quanto oportunidades para o Brasil, dependendo da sua capacidade diplomática e estratégica de atuação junto a blocos como os BRICS, o Mercosul e parceiros do Oriente Médio.
Observa-se, portanto, que o conflito entre Israel e Irã, embora localizado, tem repercussões globais profundas. Para o Brasil, os principais canais de transmissão dos efeitos econômicos envolvem o aumento do preço do petróleo, pressões inflacionárias, elevação do custo logístico, desvalorização cambial e riscos ao agronegócio e a indústria. Esses fatores se somam em um contexto interno já desafiador, forçando o Banco Central a manter uma política monetária restritiva e pressionando o governo a buscar soluções fiscais e comerciais de curto prazo. No médio prazo, o cenário internacional exigirá maior resiliência, com atenção especial à diversificação de fornecedores, ao estímulo à produção nacional de insumos estratégicos e à estabilidade fiscal, para mitigar os choques externos e preservar a trajetória de crescimento.
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