Por Carlos Gilbert Conte Filho
O conflito entre Israel e o grupo militante palestino do Hamas, já deixou centenas de mortos e começa a ter repercussões na economia mundial, o que deve ter efeitos também por aqui. Embora ainda seja muito cedo para apontar com assertividade qual a magnitude das consequências, já se pode destacar o que deve ocorrer, principalmente em se tratando de inflação, taxa de juros e crescimento econômico.
Fazer projeções sobre o que vai acontecer com a economia global e brasileira diante de um evento como o que ocorreu em Israel é bastante difícil, já que não se sabe a extensão que o conflito terá. Sobretudo, não se sabe até que ponto haverá retaliações, quais os países se envolverão e o quanto longo será a duração dessa potencial ofensiva contra o Hamas. Não obstante, é imperativo destacar que esse conflito se soma a guerra entre Rússia e Ucrânia. Ou seja, muito provavelmente haverá dois conflitos em paralelo. E isso amplia as incertezas – já bastante aprofundadas – no cenário econômico global.
Em relação à economia brasileira, alguns pontos merecem destaque: o preço do petróleo, o câmbio, a volatilidade dos mercados, a inflação e a política monetária.
O primeiro fator a se destacar é em relação ao fornecimento e o preço do petróleo. Qualquer conflito hoje afeta o mundo inteiro, principalmente quando mexe no preço do barril de petróleo. Diante ao ocorrido no dia 6 de outubro, a commodity subiu, no primeiro dia após o conflito, cerca de 4% sob a expectativa de que esse se amplie. O maior receio é que o Irã se envolva e bloqueie a passagem da commodity pelo Estreito de Hormuz, o que representaria um choque relevante em relação ao fornecimento global, pressionando o preço.
E nesse sentido, embora o Brasil não tenha nenhuma relação direta com o conflito, a economia do País deve ser impactada, justamente pela disparada da commodity. Uma alta forte do petróleo tem como consequência direta a elevação do preço dos produtos derivados, como gasolina e diesel. Por sua vez, combustíveis mais caros afetam diretamente a inflação, já que são parte essencial de diversas cadeias produtivas e de distribuição. E a alta do petróleo não afeta apenas os combustíveis, mas também uma série de outros derivados, como adubos, fertilizantes, químicos, querosene de aviação e resinas plásticas utilizadas como insumo pelas indústrias. O aumento dos combustíveis é um efeito mais rápido, mas à medida que o preço do petróleo se consolide num novo patamar tudo isso acaba subindo de preço e o destino é a inflação ao consumidor à medida em que a indústria vê seus insumos mais caros.
O segundo ponto é o efeito sobre as bolsas de valores, o que tende a ser negativo dado a ampliação da incerteza no cenário internacional. E um maior nível de incerteza contribui para a queda dos investimentos e, portanto, mitigação do crescimento econômico. O terceiro ponto é o dólar, que tende a se valorizar frente ao Real, o que pressionará a inflação (já que diversos insumos necessários na economia são cotados na moeda americana).
No cenário internacional – de ampliação da instabilidade – o Banco Central americano (FED) deve manter os juros altos por mais tempo. Essa possível majoração da taxa de juros por lá, geraria uma turbulência na economia mundial muito mais complexa dado o cenário em que os EUA enfrentam um quadro fiscal complicado e uma ampla polarização política, o que coloca indefinição para uma resposta mais coordenada a uma eventual situação de crise. Ainda no caso americano, a grande complicação é uma economia que não para de crescer o que pressiona, consequentemente, o processo inflacionário por lá. Esse cenário contribui ainda mais para manter a taxa de juros elevada por um período mais longo, o que pode levar a um processo recessivo no ano que vem. E isso pode trazer mais impactos para a economia mundial e brasileira.
Grosso modo, o que se observa (por hora), é um efeito negativo para o câmbio e nos investimentos em países emergentes como o Brasil. Há, também, a questão do agro. Para as commodities agrícolas – principal item da pauta de exportação brasileira – o tamanho da safra no ano que vem tem relação direta com o desempenho da economia dos EUA e da China. Uma recessão nos países importadores adiciona pressão sobre a próxima safra brasileira (2024) que, não bastasse, já deve ser desafiadora em meio aos possíveis efeitos do El Niño.
Em suma, para a economia brasileira, todos os fatores convergem para uma maior pressão inflacionária e, consequentemente, para uma maior cautela por parte do Banco Central. Aqui estamos falando da retomada de uma política monetária contracionista com aumentos da taxa básica de juros. Portanto, devemos ter pela frente a retomada do processo inflacionário e, devido a essa, a interrupção da tão almejada queda da taxa Selic. Mais do que isso, a Selic poderá ser majorada. E essa inversão da política monetária – em meio a um arrefecimento da safra – deverá ter consequências negativas no produto da economia. Teremos um período de turbulência pela frente.