Artigo

Impacto da enchente na economia gaúcha

Por Carlos Gilbert Conte Filho

            Além de deixar inúmeros desabrigados, mortos e desaparecidos, as enchentes que assombram o Rio Grande do Sul impactam e impactarão no setor produtivo do estado. Em meio ao caos, o governador do estado – Eduardo Leite (PSDB) – estima que serão necessários R$ 19 bilhões para reconstrução após as enchentes. Dos 497 municípios que compõe o estado, 447 foram atingidos pelas enchentes.

            Analisando os três setores da economia – indústria, serviços e agropecuária – todos foram atingidos pelas enchentes e devem apontar resultados bastante ruins para a economia gaúcha por um longo período. Nesse sentido, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) estima que as enchentes atingiram 80% da atividade econômica do estado. Segundo a entidade, as perdas econômicas ainda são inestimáveis, contudo aponta os principais polos industriais e segmentos atingidos de imediato, a saber:

  • Produção nos segmentos metalmecânicos (veículos, máquinas, produtos de metal) e móveis (na região da serra);
  • Produção nos segmentos metalmecânicos (veículos, autopeças, máquinas), derivados do petróleo e alimentos, na região metropolitana de Porto Alegre;
  • Produção no segmento de calçados, na região do Vale dos Sinos;
  • Produção nos segmentos alimentícios (carnes, massas) e tabaco, na região do Vale do Rio Pardo;
  • Produção nos segmentos de alimentos (carnes), calçados e químicos, na região do Vale do Taquari.

De acordo com a Fiergs, além dos danos relevantes de capital, os problemas logísticos devem afetar de forma significativa todas as cadeias econômicas do estado. Nesse sentido, em boa parte dos casos, não será apenas necessário realizar o trabalho de desobstrução, mas de reconstrução de estradas, pontes, vias férreas e até mesmo o principal aeroporto do estado que está com suas instalações comprometidas.

Em relação à atividade econômica, as três regiões mais importantes atingidas foram i) a Região Metropolitana, que representa R$ 107 bilhões em valor adicionado bruto ao estado; ii) a Região do Vale dos Sinos, que representa R$ 60 bilhões; e iii) a Região da Serra, que representa R$ 41 bilhões.

Quanto ao comércio, a Fecomércio-RS destacou que o volume de recursos necessários para a reconstrução de áreas públicas, das famílias e de empresas no Rio Grande do Sul será absolutamente inalcançável pelas capacidades do governo estadual e dos municípios gaúchos, cabendo assim, uma forte participação da esfera Federal e da iniciativa privada.

Apesar de também considerar cedo para trazer estimativas mais precisas sobre as perdas, a Fecomércio-RS destacou que alguns dados disponíveis já permitem observar os impactos das enchentes. O destaque, até agora, vai para as perdas de ativos das famílias. Segundo a federação, os danos patrimoniais às famílias chegam a R$ 1,7 bilhão em um cenário intermediário (ou seja, menos pessimista). No pior cenário, com impactos mais fortes, a estimativa é que os gaúchos acumulem R$ 2,3 bilhões em perdas.

A entidade também destaca grandes prejuízos nos ativos das empresas e em infraestrutura e ressalta a obstrução da atividade econômica, que pode interromper a capacidade produtiva de inúmeras companhias e localidades por mais de um mês.

O setor que possui maior concentração de produção nos municípios atingidos é o de serviços. Isso ocorre pelo fato de as enchentes terem atingido em cheio áreas metropolitanas, incluindo a capital – Porto Alegre – que possuem renda média e densidade urbana mais elevadas.

No caso do comércio varejista, os resultados são ainda mais prejudicados por conta da sazonalidade do Dia das Mães, que seria um período positivo e de alavancagem para as compras. Usualmente, o Dia das Mães é a segunda melhor data para o comércio, ficando atrás apenas do Natal. Com a enchente tomando em cheio a data, o setor varejista contabiliza, além das perdas de capital (perda das lojas e de estoque) a perda advindas das vendas que não se concretizaram.

            Em relação a atividade econômica, analistas de mercado projetam reflexos principalmente nos preços do arroz e da soja. O destaque vai mesmo para o arroz, uma vez que o Rio Grande do Sul é protagonista no plantio do grão, com cerca de 70% da produção nacional. A estimativa é que cerca de 5% da produção doméstica possa ter sido afetada pelas cheias. O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) calcula que, até o momento, 114 mil toneladas do grão foram perdidas nas enchentes, o que representa 1,6% da colheita esperada. Ainda falta estimar as perdas em áreas que estão parcialmente submersas e em armazéns atingidos. Contudo, o arroz que já está colhido no Rio Grande do Sul garante o abastecimento do país. Contudo, ante ao cenário que se impõe, o governo federal editou uma Medida Provisória que autoriza a importação, em caráter excepcional, de até um milhão de toneladas de arroz pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a recomposição dos estoques públicos, caso necessário.

Já em relação a soja, a previsão é de impactos indiretos e limitados sobre o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), dada a evolução da colheita no Brasil e dos estoques já disponíveis. Para essa cultura, ao menos nesse momento, os efeitos das enchentes devem ser marginais.

Sendo assim, estimar os efeitos indiretos sobre a atividade econômica do Rio Grande do Sul e do Brasil, é ainda desafiador, já que o estado também é um importante produtor de máquinas e equipamentos. Nesse sentido, os impactos dependerão do tempo para a normalização das operações nas companhias e nos fluxos de distribuição, o que é bastante incerto no momento.

Em suma, a projeção do impacto do desastre no Produto Interno Bruto (PIB) nacional pode chegar a 0,4%. Antes das enchentes, a projeção era de crescimento de 2% de PIB do Brasil para este ano, com a possibilidade de revisões para cima. A chance de projeções melhores, entretanto, se esvaziara ante ao atual cenário.

Até o momento, algumas medidas já vêm sendo tomadas visando auxiliar a reconstrução do estado gaúcho. Entre tantas – como o saque calamidade do Fundo de Garantia sobre o Tempo de Serviço (FGTS) e linhas de crédito junto ao governo federal para a reconstrução da infraestrutura do estado – a União suspendeu por três anos a dívida do Rio Grande do Sul, cujo passivo é da ordem de R$ 96 bilhões. Nesse período, os juros da dívida serão zerados. A medida deve dar alívio em torno de R$ 11 bilhões ao governo estadual, os quais tem de ser destinados à reconstrução. Nesse sentido, o governador Eduardo Leite deverá apresentar um plano de medidas para a utilização da verba poupada.

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