Artigo

O embate entre Brasil e Israel: o que pode acabar respingando na economia?

Por Carlos Gilbert Conte Filho

Além da crise diplomática resultante das declarações do presidente Lula comparando a crise humanitária em Gaza ao Holocausto e a forte resposta dado por Israel, o que se pode esperar em relação a efeitos na economia brasileira e israelense?

            Durante uma entrevista coletiva em Adis Abeba, na Etiópia, o presidente Lula afirmou que o conflito entre Israel contra o grupo terrorista Hamas em Gaza vai além de uma guerra, mas se configura como um genocídio, comparando a ação israelense em Gaza ao Holocausto durante a 2ª Guerra Mundial. Lula reforçou a defesa histórica do Brasil por uma solução de dois Estados e condenou Israel por desobedecer a todas as decisões das Nações Unidas. Frente a essas declarações, o primeiro-ministro israelense – Benjamin Netanyahu – declarou que Lula cruzou a linha vermelha e se tornou persona non grata em Israel. A resposta israelense se estendeu ao embaixador brasileiro em Israel – Francisco Meyer – que, ao ser convidado para o Museu do Holocausto, sofreu uma forte reprimenda do governo israelense em aramaico (o que não foi bem aceito pelo governo brasileiro). A resposta brasileira foi convocar o embaixador brasileiro de volta ao Brasil e se cogita expulsar o embaixador israelense do país (o que seria drástico e indesejável), o que depende dos próximos movimentos do governo Netanyahu.

            Em termos econômicos as consequências são menos impactantes do que se vislumbra no âmbito diplomático. Pode-se analisar a relação entre os dois países em termos de balança comercial e de investimentos diretos realizados por ambos.

Em termos de volume, o impacto de algum tipo de sanção pode ser considerado pequeno, dada a dimensão da corrente de comércio entre os dois países. Contudo, é também verdade que as relações estavam crescendo até o início do conflito em Gaza. O comércio entre Brasil e Israel, em 2023, foi pouco superior a US$ 2 bilhões (gráfico 1), com as exportações em torno de R$ 661 milhões e as importações em torno de US$ 1,3 bilhão (o que configura um déficit comercial de US$ 690 milhões). Contudo, a informação relevante é que as exportações cresceram 45% entre 2013 e 2023 enquanto as importações cresceram 21,4%.

Embora o montante transacionado seja pequeno considerando as exportações brasileiras (em 2023, o Brasil exportou US$ 339,6 bilhões), havia um considerável bom ambiente para aumentar essa rubrica. Em setembro de 2023, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) divulgou informações acerca do comércio e investimentos entre os dois países e apontou uma projeção de 327 oportunidades de negócios. Esses estão em segmentos os quais já ocorrem transações – como combustíveis e commodities – quanto em áreas de máquinas e equipamentos de transporte e alguns artigos manufaturados.

            Segundo o mesmo levantamento, a corrente de comércio entre Brasil e Israel cresceu cerca de 130% no período entre 2021 e 2022, com 85% do valor das exportações brasileiras concentradas nos grupos de produtos como petróleo, carne bovina, milho e soja. Um dado relevante é que as exportações de petróleo começaram apenas em 2021 e já se transformaram no principal item de pauta exportadora (referente ao ano de 2022), representando US$ 1 bilhão, o equivalente a 56,7% das exportações totais do Brasil para Israel. Por outro lado, o Brasil comprou US$ 2,12 bilhões de bens e serviços de Israel em 2022, sendo 54% referentes a adubos e fertilizantes.

            Outro ponto a se analisar são os investimentos diretos realizados no Brasil a partir de recursos israelenses. Embora os investimentos israelenses ocupem apenas a 38ª posição dentre todos os investimentos externos realizados no Brasil, o estoque de capital israelense cresceu mais de 650% entre 2021 e 2022, chegando a US$ 993 milhões aportados em terras tupiniquins em 2022. Considerando que o volume total de investimentos diretos realizados no Brasil por empresas de outros países, foi de US$ 85 bilhões em 2022, os investimentos israelenses configuraram 1,17% do total investido. Já os investimentos diretos brasileiros em Israel são bem inferiores, tendo atingido US$ 143 milhões em 2022. Nesse sentido, os setores brasileiros de tecnologia, venture capital e imobiliário têm demonstrado crescente interesse no mercado israelense.

            Diante desses números e do cenário que se impõe, observa-se dois pontos fundamentais. O primeiro deles é que uma quebra nas relações comerciais entre os dois países é muito mais prejudicial para Israel do que para o Brasil (já que a balança comercial entre os dois países é deficitária para o Brasil). Ademais, no limite, há outros fornecedores de adubos e fertilizantes que já são parceiros comerciais do Brasil (Rússia, predominantemente). Sendo assim, uma eventual quebra de relações em âmbito econômico entre os dois países não acarretaria grandes dificuldades para o suprimento dos itens importados. O segundo ponto são os investimentos diretos realizados por cada um dos países. Os investimentos israelenses por aqui, embora importantes, também são marginais. Logo, uma paralisia de tais investimentos impactariam minimamente na geração de empregos ou no crescimento do PIB brasileiro, embora possa se perder oportunidades futuras que estavam no radar.

Portanto, de tudo o que tem vindo à tona no que se refere a Brasil e Israel a partir da fala de Lula e da resposta israelense, o que permanece, de fato, é a crise diplomática.

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