Artigo

Queda do nível de desemprego no Brasil

Por Carlos Gilbert Conte Filho

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 19 de janeiro, o nível de desemprego caiu para o menor patamar em sete anos. No trimestre terminado em novembro de 2022, o nível de desemprego caiu -0,9% em relação ao trimestre encerrado em agosto (8,9%) e 3,5% na comparação com novembro de 2021 atingindo. Paralelamente, a renda média do brasileiro vem subindo ao longo das últimas medições. Sendo assim, o que esperar da economia em relação ao mercado de trabalho daqui para frente a luz das perspectivas econômicas e políticas?

Com a queda da taxa de desemprego para 8,1% da força de trabalho observada no trimestre terminado em novembro, a população desocupada somou 8,7 milhões de pessoas (trabalhadores com idade superior a 14 anos) registrando um recuo de 9.8% em relação ao trimestre terminado em agosto (953 mil pessoas a menos) e 29,5% na comparação com novembro de 2021 (3,7 milhões de pessoas desocupadas a menos) (gráfico 1).

Observa-se, portanto, que a desocupação vem caindo significativamente ao longo dos últimos oito trimestres móveis (mesmo que nos últimos trimestres o ritmo de queda da taxa de desemprego tenha sido menor do que a verificada no início de 2022). E a retração da taxa de desocupação é explicada pelo aumento de 0,7% na taxa de ocupação (aumento de 680 mil pessoas trabalhando), a qual se deve, atualmente, ao mercado de trabalho formal.
Quando analisado o período de um ano (novembro de 2021 a novembro de 2022), o contingente de trabalhadores com carteira assinada se expandiu em 7,5% (2,567 milhões novos postos de trabalho), enquanto o mercado informal cresceu 9,3%. Contudo, analisando trimestre contra o trimestre imediatamente anterior (novembro de 2022 em relação a agosto de 2022), o mercado de trabalho com carteira assinada foi ampliado em 2,3% (ou 817 mil pessoas a mais), enquanto o mercado de trabalho informal cresceu 1,1% (com criação de 149 mil postos de trabalho). Portanto, embora a recuperação do mercado de trabalho se deva, em um primeiro momento, a melhora do mercado de trabalho informal; atualmente essa melhora (mesmo que menos vultuosa) se deve ao mercado formal de trabalho. E essa é uma sinalização importante visto que reduz o peso relativo de postos de trabalho sem carteira de trabalho no total de vagas criadas. O resultado desse quadro é que, atualmente, a informalidade responde por 38,9% da força de trabalho (o menor número desde o trimestre encerrado em novembro de 2020), enquanto o mercado formal responde por 51,1% do total.
Em relação as atividades, no comparativo com agosto de 2022, os maiores aumentos de trabalhadores contratados foram nos setores de Informação, Comunicação e Atividades Financeiras, Imobiliárias, Profissionais e Administrativas (370 mil novos trabalhadores contratados, alta de 2,6%); além de Transporte, Armazenagem e Correio (129 mil novos trabalhadores contratados, alta de 2,5%). A Administração Pública, Defesa, Seguridade Social, Educação, Saúde Humana e Serviços Sociais aparecem em seguida (319 mil novos trabalhadores contratados, alta de 1,9%), com destaque para os segmentos de saúde e educação. O setor Comercial que costuma oferecer mais oportunidades no período do fim do ano (em função das festas de Natal e Ano Novo), foi um dos que não avançaram significativamente na comparação com o trimestre anterior: foram 11 mil novos postos de trabalho (alta de 0,1%). O setor da Construção, por sua vez, encolheu -1% (73 mil postos de trabalho a menos), assim como a Agricultura (147 mil a menos, queda de -1,7%) e Alojamento e Alimentação (cuja redução foi de 130 mil postos de trabalho, queda de -2,4%).
O resultado de todo esse cenário de recuperação do mercado de trabalho é um nível de ocupação de 57,4% (pessoas com 14 anos ao mais), uma variação positiva de 0,3% em relação ao trimestre terminado em agosto. Ademais, a taxa de participação na força de trabalho (população economicamente ativa) foi de 62,4%, variação de 0,1% em relação a novembro de 2021 (gráfico 2):

O IBGE também indicou que houve queda de 4,8% de pessoas desalentadas (203 mil a menos). Essas somaram, em novembro de 2022, 4,1 milhões. A população desalentada é definida como aquela desistiu de procurar trabalho e está fora da força de trabalho por uma das seguintes razões: não consegue trabalho adequado, ou não tem experiência ou qualificação, ou é considerado muito jovem ou idosa, ou porque não há trabalho na região (se tivesse oferta de trabalho, estaria disponível para assumir a vaga). Já entre aqueles que não estavam ocupados nem procuravam uma vaga no mercado, mas tinham potencial para se transformar em força de trabalho (força de trabalho potencial), eram 454 mil pessoas a menos, uma queda de 5,8%.

Por fim, destaca-se que o rendimento médio real foi estimado em R$ 2.787, aumento de 3% em relação ao trimestre terminado em agosto (gráfico 3). Quando comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, o crescimento foi de 7,1%. Apesar da recuperação, a renda média segue abaixo dos valores pré-pandemia. Em meados de 2020, a renda média do brasileiro era de R$ 3.013. Contudo, é de suma importância destacar que o aumento do rendimento médio, entre novembro de 2022 e novembro de 2021, foi de 6,9% e que nesse mesmo período, a inflação (IPCA) – também medida pelo IBGE – foi de 5,9%. Portanto, em média, no período de um ano, o brasileiro teve um ganho real na renda em torno de 1%.

Ainda em relação ao rendimento médio, este variou da seguinte forma quando analisados os setores da economia:
Construção (7,5%, ou mais R$ 156);
Transporte, armazenagem e correio (5,9%, ou mais R$ 152);
Alojamento e alimentação (5,7%, ou mais R$ 96);
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (3,6%, ou mais R$ 134).
Diante do cenário que o mercado de trabalho vem apresentando, pode-se esperar que a melhora continue daqui para frente? A resposta, infelizmente, é negativa. A perspectiva para a economia brasileira não é de otimismo. Segundo o Boletim Focus divulgado no dia 23 de janeiro, a expectativa para o PIB, em 2023, é de crescimento de 0,79% (um leve crescimento de 0,02% em relação à semana anterior). E essa expectativa de crescimento baixo se deve a diversos fatores. Vejamos.
O primeiro fator a se destacar é a turbulência no cenário político com os ataques as instituições e aos pilares da democracia. Atos como os ocorridos no dia 8 de janeiro ampliam as incertezas quanto ao futuro da economia. E essa maior incerteza leva o capitalista a esperar por um melhor momento para investir. E esse quadro de incerteza é ampliado pela desconfiança em relação as contas públicas (mesmo que esse assunto tenha ficado em segundo plano ultimamente). Ocorre que sem investimento, não há criação de postos de trabalho ou aumento da renda. Logo, é de suma importância que o cenário social e político (que se confundem nesse momento) – corroborado por uma gestão responsável – se apazigue.
Há, ainda o cenário externo com o indicativo de que 2023 será um ano difícil também para as economias dos demais países (baixo crescimento e inflação), principalmente dos parceiros comerciais do Brasil: China, EUA e Argentina. Esse aspecto tenderá a diminuir as exportações dos nossos produtos. E lembremos que o setor externo é de suma importância para a nossa economia.
Sendo assim, o que se pode destacar é que a melhora do mercado de trabalho se deu em função da lacuna deixada pela pandemia. Com a queda da atividade por um longo período, os setores da indústria e de serviços viram um gap que foi preenchido quando a questão sanitária voltou normalidade. A partir daí, para criar postos de trabalho (com ampliação de renda), depende-se de investimentos que leve a economia para um patamar acima do nível pré-pandemia. E esses não tem incentivos para ocorrer diante do cenário que se impõe.
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